Blanched | Blanched Toca Angelopoulos [Independente]
Lançamento: 2004 [Edicão Nacional]
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Bandas tristes não têm amigos -- OU Paragens barulhentas na neblina
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Alguns problemas, contudo, se manifestaram. Ao que parece, o ajuste fino do software foi feito por ninguém menos que Leandro Me ajuda Jeová Vignoli. Assim sendo, ao inserir o termo 'pós-rock' no campo 'sub-gênero', uma mensagem piscou na tela.
AO ENTRAR O TERMO 'pós-rock' NO CAMPO 'sub-gênero', VOCÊ AUTOMATICAMENTE IMPOSSIBILITA O CD DE ATINGIR ÍNDICE ALGARÍTMICO SUPERIOR A 5. DESEJA PROSSEGUIR?
"Com mil diabos", pensei.
CAPA EM P&B / SÉPIA?
Assinalei um tímido "sim". A nota caiu para 4,5.
REFERÊNCIA A CINEASTAS EUROPEUS?
Uh.
NO TÍTULO?
Caralho.
A BANDA CONTA COM EX-ESTUDANTES DE JORNALISMO QUE AGORA RECHAÇAM A PROFISSÃO?
Sem dúvida. A nota ficou em 3,5.
CITANDO NIETZSCHE, AINDA POR CIMA?
2,5.
OS MÚSICOS SÃO PINTAS MULTIDISCIPLINARES, QUE FALAM IDIOMAS, ESCREVEM LIVROS OU FILMAM CURTAS?
Bah. A nota chegou a 1,5.
O VOCALISTA É AMIGO SEU?
Hmmm.
ÍNDICE ALGARÍTMICO: 0,0. UOHOHOHOHOHOHO, SIFUDEU MANO
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"Tristes Dos Que Procuram Dentro De Si Respostas Porque Lá Só Há Espera" vem com um sample descarnado, bateria marcial arrastada e uma teia de guitarras que se esgueira entre repetições meticulosas. O peso e o formato vagamente serrilhado dos riffs contribuem para a epicidade que a Blanched parece tanto prezar.
A estética fica perigosamente próxima de suas matrizes [o drone casca-grossa de Explosions In The Sky e GY!BE]. Todavia, conseguem adicionar diferentes matizes [desbotadas como convém] através de seu específico senso de tristeza.
"Hoje Eu Tou Melhor" pode te fazer piorar, mas só nos primeiros acordes. Logo, o que resta é uma sensação de assombro e melancolia -- pesada, digressiva e dolorosa, algo eclodindo em câmera lenta, como uma banda de metal tocando uma canção folk. Ou o contrário, enfim. Funciona.
Nos vários shows que assisti da Blanched, a música que provavelmente se fixou como minha predileta foi "Um Palhaço No Campo De Concentração". Estranhamente, é a música menos consistente em Blanched Toca Angelopoulos -- em parte porque o timbre de bateria parece inapropriado, xoxo. Em parte porque a música parece destoar da nova direção sugerida, parecendo pertencer muito mais a Ter Estado Aqui, EP de 2002. Não obstante, seu poder segue sendo devastador.
A IDÉIA É VIRAR UMA BANDA DE TANGO EM DOIS ANOS, PELO QUE DIZ O VOCALISTA |
Com seus monolíticos DOZE MINUTOS e qualquer coisa, "Casa De Descanso" se inscreve como uma das peças mais pretensiosas e, convenhamos, bem-executadas do indie rock tapuia. Tocante, com vocais macho-fêmea [sempre quis dizer isso], não se furta em soar vagamente MPBística [tendência presente nos primórdios da banda] -- violão, sim. Um sentimento tépido, sim. E, mesmo soando otimista [acreditem] como nada que a banda tenha gravado até hoje, contém uma frase que pode assombrar: "Quando voltar, espero encontrar-te mais forte, mais livre, consciente de que o amor morreu doente." Pode assombrar. Basta que se permita.
A Blanched pertence a uma cena gaúcha disforme, a um só tempo próxima e afastada de Porto Alegre, onde bandas permutam em prol da sobrevivência sem terem nada a ver umas com as outras. Uma cena alienada e cujo público amealha góticos, headbangers que se perderam na curva, literatos e indies compulsórios. Seus shows são eventos igualmente estranhos, onde coisas surreais acontecem, por motivos amplamente dúbios. Conceitualmente, perfeita. Dessas coisas são feitas lendas, e não me admiraria se a Blanched virasse uma espécie de religião num futuro próximo -- não sei se é bem essa a idéia. Mas também pouco me importa.
Ademais, bandas tristes não têm amigos. Exceto, talvez, amigos como a Deus E O Diabo.
UOHOHOHOHOHOHO, SIFUDEU MANO
Nota: 9.